A relação do jogador de futebol com o número que ele usa vai além superstições. O uruguaio Acosta, por exemplo, viveu um dos melhores momentos de sua carreira vestindo a 25, no Náutico. Chegando ao Corinthians, o jogador recebeu a 9 e não conseguiu marcar nenhum gol, até voltar a usar a 25. Sorte? O que dizer do número 13? Sinônimo de azar para muitos, o número é considerado um amuleto por Zagallo, único a estar presente em todos os títulos da Seleção Brasileira de Futebol. Coincidência?
Pela Seleção, enquanto jogador, Zagallo vestiu a camisa 7, que anos depois seria eternizada por Garrincha. Mané, como era chamado, teve grande importância para o Brasil em seus títulos mundiais, mas ficou ainda mais marcado no Botafogo, onde é considerado o maior ídolo da historia do clube. Jogando pelo alvinegro carioca, o gênio das pernas tortas deu início a uma mística que perdura até os dias de hoje, a mística da camisa 7. Além dele, Jairzinho, Mauricio, Túlio, Donizete, Jorge Henrique e outros craques tiveram o prazer de usar esta camisa. Todos com passagens marcantes pelo alvinegro carioca e com participação fundamental em títulos do clube.
Para Marcelo Ferreira, assessor do Botafogo, “a camisa 7 está para o Glorioso como a 10 está para todos os outros no mundo. Quando a diretoria monta a equipe, pensa carinhosamente em quem irá vesti-la, pois não pode ser um jogador qualquer.”
Mas o número 7 não tem importância apenas no Botafogo. O Manchester United cultua esta camisa, pois os principais craques do time a vestiram, como George Best, Eric Cantona, David Beckham e, o atual melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo. Um dos maiores ídolos do Corinthians, Marcelinho Carioca, usou a 7 em todos os títulos do clube paulista no fim da década de 90. Já no Santos, o craque Robinho vestiu a 7 até ser transferido para o Real Madri. Pelo Milan, Shevchenko fez historia com este número, que agora é usado por Alexandre Pato. O maior ídolo da historia do Real Madri, Raul, veste a número 7, enquanto Figo, jogador português, tem esta camisa cativa na Inter de Milão.
Na década de 90, em uma grande jogada de marketing, o Botafogo foi patrocinado pela Pepsi, que estampou na camisa alvi-negra o seu produto “Seven Up”, aumentando ainda mais o valor do número para a equipe. Essa não foi a única vez em que uma empresa criou uma estratégia de marketing para aplicar no futebol carioca. Também nos anos 90, Juninho Pernambucano, craque do Vasco, vestiu a camisa 31 em alusão ao possível patrocinador do time, que seria a Telemar, empresa de telefonia que tinha o 31 como seu número para ligações à distância. Já Roger, jogador do Fluminense, usou a 23 pelo mesmo motivo, sendo que o patrocinador no caso seria a Intelig.
As grandes empresas estão sempre atentas as oportunidades que surgem no mundo do futebol, não apenas para patrocinar clubes. A fornecedora de material esportivo, Nike, por exemplo, aproveitou a importância que a camisa 10 ganhou nos últimos anos e baseou uma campanha no sonho dos jovens em vesti-la, o “Joga10”. O slogan “A 10 você não veste, você conquista” representa exatamente o que este número tornou-se para o mundo do futebol. Não é pra menos. Dos últimos 18 jogadores eleitos melhores do mundo pela FIFA, 10 deles vestiam a camisa 10 em suas equipes. Isso porque esse prêmio não existia na época de Pelé e Maradona.
Até a década de 90, havia uma regra que obrigava as equipes a definir seus titulares com números de
Entretanto, desde que a FIFA retirou esta regra, alguns jogadores adotaram números diferenciados, principalmente na Europa, onde os atletas passaram a ter números fixos durante toda a temporada. Kaká, por exemplo, ao chegar no Milan, não pôde escolher a camisa 10 e optou pela 22, dia do seu aniversário, e agora, ao se transferir para o Real Madrid, deverá jogar com a 16, primeira camisa que utilizou no São Paulo, clube que o revelou. Ronaldo e Ronaldinho Gaucho, também no Milan, preferiram vestir a 99 e a 80, respectivamente. Thierry Henry, craque francês que foi algoz brasileiro na Copa de 2006, usa a 14 em todos os clubes por onde passa. A camisa 12 também é “aposentada” em alguns clubes, não em homenagem ao goleiro reserva, mas ao décimo segundo jogador de todos os times, à torcida, como forma de reconhecer a importância do torcedor para o time.
Para Jorge Delou, produtor do Campeonato Italiano do Esporte Interativo, “a numeração fixa utilizada na Europa é ótima, pois facilita a vida dos comentaristas e da própria torcida, já que a identificação do atleta passa a ser feita somente pelo seu número”.
Como podemos ver, no mundo do futebol, os números tem grande valor para todas as equipes. Diante deste fato e seguindo a tradição de esportes norte-americanos, alguns clubes passaram a aposentar um número como forma de homenagear um atleta que tenha uma identificação com o time.
No Milan, da Itália, por exemplo, Maldini tem o número 4 guardado em sua homenagem. Apenas seu filho, que está treinando nas camadas de base, poderá vestir a mesma camisa. O brasileiro Aldair foi homenageado pela Roma, com a aposentadoria da camisa 6. Raul, quando abandonar o futebol, receberá a mesma glória com a 7 do Real. E o Vasco, recentemente, foi o primeiro clube brasileiro a aderir a moda aposentando a camisa 11 de Romário. A seleção Argentina aposentou a camisa 10 junto com o Maradona.
Já Pelé e Garrincha não receberam a mesma homenagem nem na Seleção, nem nos clubes em que fizeram historia no Brasil. Na opinião de Vinicius Carvalhosa, botafoguense, “a camisa 7 do Botafogo, assim como a 10 do Santos, deveriam ser aposentadas, ou pelo menos protegidas para que apenas grandes jogadores a usassem”. Segundo ele, dessa forma, figuras como o argentino Zárate, com passagem apagada pelo Fogão, não vestiriam essas camisas.